Promessas para 2017
O ano vai chegando ao fim e já é hora de pensar nas viagens de 2017

Sentada sobre a muralha que envolve o centro histórico de Cartagena, com uma arepa de queijo quentinha recém-comprada de um ambulante em mãos, e sob o efeito sonoro da rumba que chega nem que seja trazida pelo vento, fica fácil entender porque foi na Colômbia que nasceu o realismo fantástico. É um clichê dos mais bonitos lembrar de Gabriel García Márquez (1927-2014) e de sua forte, politizada e supersticiosa – tão colombiana – Macondo.
Como na trajetória literária da família Buendía em ‘Cem Anos de Solidão’ (1967), sagas de limites borrados entre o bem e o mal marcaram a Colômbia neste 2016. Teve o plebiscito sobre o acordo de paz com as Farc. Teve mais Pablo Escobar e seus sicários na segunda temporada do seriado Narcos, da Netflix. E teve o triste episódio do voo da Chapecoense, que mostrou a solidariedade colombiana e nos aproximou do país. A Colômbia está na boca do povo. Não à toa, foi escolhida em votação unânime pelos jurados e ganhou também os votos dos leitores do Viagem como o destino mais promissor de 2017.
Os 11 quilômetros de muros, tudo o que está dentro deles e a atmosfera caribenha de Cartagena compõem um dos destinos mais bonitos da América do Sul, onde García Márquez morou e trabalhou como jornalista durante anos. Mas outras cidades da Colômbia vêm encontrando seu próprio caminho rumo ao coração dos turistas.
A capital Bogotá já não é simples ponto de passagem. Boa parte do mérito está à mesa. “É uma das cidades mais vibrantes da América do Sul, com uma mistura interessante de história, cultura e boa gastronomia”, justifica a editora da Azul Magazine, Bruna Tiussu. “Alguns chefs, como Eduardo Martínez e Leonor Spinosa, são protagonistas da atual cena que traz influências da culinária indígena e criativas receitas com ingredientes locais”, completa. Encontre os chefs nos restaurantes Mini-Mal (Martínez; mini-mal.org) e Leo Cozina y Cava (Leonor; restauranteleo.com). Faça reserva.
As inaugurações de hotéis na capital se multiplicam desde 2015. A mais recente, de abril deste ano, é a segunda unidade do Four Seasons, com 64 quartos. Seis meses antes, a rede havia assumido a operação do Casa Medina, com 62 quartos em um edifício de 1946. Também em 2015, a capital passou a contar com um Courtyard, da Marriott, e um Double Tree, da marca Hilton.
Até Medellín, que ninguém se atreveria a recomendar como destino turístico nos anos mais tensos da guerra entre o governo colombiano e os narcotraficantes, que Pablo Escobar dominou violentamente e Gabo retratou no livro ‘Notícias de um Sequestro’ (1997), vem mudando drasticamente de perfil.
O bairro periférico de Santo Domingo é uma experiência-piloto de integração entre favela e centro. Um teleférico, o Metrocable, leva até o alto do morro, onde o desembarque é ao lado da Biblioteca Parque-Espanha, um dos novos – e arquitetonicamente espetaculares – equipamentos públicos planejados para mudar a realidade local.
Parques e museus ajudam a tornar Medellín uma das cidades mais inovadoras do mundo, título concedido em 2013 pelo Urban Land Institute, quando derrotou Nova Iorque e Tel-Aviv. Em 2017, a cidade ainda vai receber um jogo que promete emoções além do futebol: Atlético Nacional x Chapecoense pela Recopa Sul-Americana.
O total de visitantes na Colômbia cresceu, em média, 4,5% ao ano entre 2010 e 2015, quando chegaram 1,184 milhão de turistas estrangeiros ao país. Os dados são do Procolombia, órgão governamental dedicado a turismo e mercado externo. A fantástica Colômbia, com todas as suas contradições e novidades, é muito real. É dela a hora e a vez no turismo em 2017.
FOZ DO IGUAÇU
Em ano de crise e dólar alto, o brasileiro começa a olhar com mais carinho para os destinos nacionais. Com atrações clássicas e novidades, Foz do Iguaçu é ideal para quem procura uma viagem marcante, mas não quer gastar tanto. “Junto de Gramado e Balneário Camboriú, forma o triunvirato de destinos que podem substituir a Flórida para viagens em família”, diz o colunista Ricardo Freire.
Na verdade, Foz é para todos os públicos: famílias, casais, grupos de amigos. E tem ampla rede hoteleira, que inclui de hostels de boa qualidade a hotéis cinco-estrelas. “É uma cidade fácil de conhecer. Um fim de semana é suficiente para as maiores aventuras”, avisa a blogueira Amanda Noventa.
De fato, em um fim de semana você consegue visitar o lado brasileiro das Cataratas do Iguaçu e entende por que elas foram eleitas uma das Sete Maravilhas do Mundo. No Parque Nacional (R$ 35; cataratasdoiguacu.com.br), ônibus levam os turistas aos principais pontos – a maioria desembarca na entrada da trilha. São apenas 1.200 metros, em um percurso tranquilo e acessível.
Mas vale a pena ir também ao lado argentino, e, para isso, você vai precisar de pelo menos um dia a mais. No Parque Nacional Iguazú (R$ 53; iguazuargentina.com), o caminho segue sobre as quedas d’água – o ápice é a chegada à Garganta do Diabo.
Como novidades, a rede Mabu de hotéis prevê concluir, até o fim de 2017, o Blue Park, um parque aquático de águas termais. Na primeira fase de obras, estão previstos uma praia de ondas com água a 36 graus, tobogãs para deslizar em tapetes de alta velocidade e uma área só para crianças.
O Marco das Três Fronteiras, que marca os limites entre Argentina, Brasil e Uruguai, acaba de passar por uma grande revitalização. Será reinaugurado nesta semana, com ampliação de área de mirantes, exposição tecnológica e show de águas dançantes. Mais: marcodastresfronteiras.com.br.

PORTUGAL
Não é difícil entender por que Portugal entrou na lista de destinos promissores para 2017. “É um dos destinos europeus mais acessíveis para os brasileiros. Além do idioma em comum, o clima é mais quente do que em outros países do continente, e o valor gasto não pesa tanto no orçamento”, justifica Bob Rossato, um dos sócios-fundadores do site ViajaNet.
De fato, Portugal é uma boa ideia de viagem o ano todo. Há voos diretos para Lisboa, da Azul e da TAP – esta última, aliás, oferece stopover na capital portuguesa por até três dias para quem vai fazer conexão para a África ou Europa. O inverno, bem menos rigoroso do que em outros países do continente, é boa opção para quem prefere viajar na baixa temporada.
Lisboa é uma cidade pequena, fácil de ser explorada. O bonde 28 passa pelas principais atrações. Vai bem devagarinho, mas é uma delícia. O metrô se mostra bastante eficiente – chega também ao aeroporto – e os táxis, baratos. Do fado da Alfama aos bares agitados do Bairro Alto, a cena noturna da cidade agrada moderninhos e românticos. O Mercado da Ribeira foi reformado recentemente e está com uma cena gastronômica de respeito.
Outro passeio clássico é pegar o elétrico (espécie de bonde mais moderno) para Belém e visitar a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos e o Museu Berardo. Além de, claro, provar os tradicionais pastéis de Belém. Este ano, a região ganhou ainda um museu novinho, o Maat (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia), instalado em um prédio moderno na beira do Rio Tejo.
Embora tenha proporções diminutas – sua área é semelhante à do Estado de Santa Catarina – há muito mais para ver pelo país. “Não se limite apenas a Lisboa e aos lindos parques verdes da capital. Separe alguns dias para visitar as belezas dos arredores como as praias de Estoril; as ruínas romanas e as vilas necrópoles de Cascais; e presenciar um pôr do sol ímpar no norte do Cabo da Roca em Sintra”, sugere Bob Rossato. Para isso, alugue um carro e descubra ainda os pequenos vilarejos do caminho, perdidos no tempo.
E se você ainda tiver dúvidas se deve ou não escolher o país como seu destino para o próximo ano, o colunista do Viagem Ricardo Freire tem a fórmula certa para você se decidir. “Ouça tudo de António Zambujo no Spotify e você também vai querer embarcar amanhã.”
TIRADENTES
De uns tempos para cá, a vila histórica de pouco mais de 7 mil habitantes tem ido além das suas já consagradas construções e igrejas. Tornou-se polo cultural e gastronômico e, não à toa, já vem sendo chamada de ‘Paraty mineira’.
Há bons motivos para a comparação e, para falar a verdade, o destino mineiro – a seis horas de São Paulo de carro e três de Belo Horizonte – já compete em pé de igualdade com o carioca no que diz respeito a número de eventos ao longo do ano. Em 2017, são 24 confirmados e outros sete a confirmar. Entre os mais famosos, a Mostra de Cinema, que chega à sua 20ª edição de 20 a 28 de janeiro, o Festival de Cultura e Gastronomia em agosto (ainda sem data definida) e a etapa do XTerra, competição de triatlo off-road marcada para 30 de setembro.
Sem deixar de lado sua quantidade abastada de atrações naturais, arquitetônicas e históricas, a proposta é a mesma de Paraty: tentar combinar os eventos com passeios (muitos deles gratuitos) pela ‘charmosa cidadezinha’, como descreve a editora da Azul Magazine, Bruna Tiussu. “Tiradentes se tornou uma das ‘mecas’ da gastronomia nacional”, avalia.
A parte histórica inclui dez igrejas construídas entre os séculos 18 e 19 nos estilos barroco e rococó. A mais simbólica é a Igreja Matriz de Santo Antônio, que teve sua fachada modificada por Aleijadinho em 1810 e guarda um ícone da cidade, o relógio de sol em pedra-sabão.
Sobrados e casas históricas hoje funcionam como centros culturais e museus, com destaque para a Casa da Câmara e o Museu Padre Toledo, pertencente ao líder inconfidente e sede da primeira reunião dos conjurados em 1788. Vale também embarcar na Maria-fumaça até a vizinha São João Del Rey. O tour parte da estação ferroviária inaugurada por Dom Pedro II em 1881 (R$ 60 ida e volta, de quarta a domingo.