Sexy Por Acidente – Autoestima conta mais que aparência

A beleza é esperada, mas agora a chamamos de bem-estar

texto: agência estado | fotos: divulgação

A comediante Amy Schumer se tornou famosa graças às suas tiradas ácidas e observações autodepreciativas sobre romance, bebida e sexo. Mas a artista de 33 anos diz que as pessoas entenderam mal sua nova comédia romântica, Sexy Por Acidente, que trata de uma mulher que tem pouca autoestima até bater a cabeça e passar a acreditar que é uma supermodelo.
Um primeiro trailer do filme, que teve estreia nos cinemas norte-americanos em junho, foi muito criticado nas Redes Sociais por parecer zombar de mulheres que não se encaixam nos ideais de corpos magros e bem torneados.
Amy, porém, afirma que a mensagem do filme é o empoderamento feminino e a autoconfiança, seja qual for o tamanho ou a aparência. “Acho que fomos muito cuidadosos de nos focarmos na mensagem, que é a de que não se trata de como os outros veem você. Trata-se de como você se vê e quem você é”, disse Amy à Reuters Television.
“Houve uma reação negativa estranha ao trailer, e fiquei animada de as pessoas verem o longa e perceberem que não é isso que estamos fazendo”, acrescentou.

Discussão
No filme, a autocrítica Renee (interpretada por Amy Schumer) bate a cabeça na academia de ginástica e acorda do desmaio acreditando que se tornou esbelta como uma supermodelo. Ela se deleita com a novidade, participando de um concurso de roupa de banho, faturando uma promoção e conquistando o afeto de um disputado herdeiro corporativo, para afinal descobrir que sua aparência nunca mudou. Os benefícios que ela imaginava ter conquistado com a beleza foram em vez disso fruto de sua nova autoconfiança.
O filme dá a entender que o único obstáculo para as mulheres de aparência normal seria a sua crença segundo a qual a aparência normal seria para elas um obstáculo. Tal perspectiva joga sobre as mulheres o ônus de melhorar a autoestima em vez de criticar os padrões de beleza definidos pela sociedade. A realidade é que a expectativa em relação à aparência das mulheres nunca foi mais implacável.
Esta recente negação dos padrões de beleza pode ser vista nos anúncios de cosméticos, nos monólogos dos professores de ginástica, nas legendas do Instagram e, cada vez mais, nos princípios do feminismo pop.
Cuidar da aparência não é mais um objetivo superficial: tornou-se também um objetivo ético. Assim, vemos agora entidades corporativas cinicamente incentivando as mulheres a se envolverem em atividades ligadas à beleza e à ginástica para se tornarem pessoas melhores, e não apenas mais atraentes.
Essas descrições revelam outra falácia de ‘Sexy por Acidente’: a ideia segundo a qual todas as mulheres comuns só precisam de uma dose saudável de autoconfiança para vencerem na vida.
Esse novo mantra da beleza é um reflexo das mensagens corporativas de termos como ‘síndrome do impostor’ e ‘fazer acontecer’: a noção de que o sucesso profissional é negado às mulheres não pela discriminação, mas pela falta de confiança em si mesmas. Na verdade, a mulher ideal da nossa cultura é maravilhosa e modesta.
A busca pela beleza é, no limite, uma escolha racional em um mundo que a valoriza tanto. A energia cerebral que dedico diariamente pensando na minha aparência é um desperdício monumental. O simples acúmulo de imagens de corpos de celebridades no meu histórico de navegação parece digno de uma psicose.
A maneira que descobri de expulsar momentaneamente essa sobra do eu idealizado é pagar para que ela me deixe: seja fazendo compras na Sephora ou participando de uma aula de spin. A beleza é esperada, mas agora a chamamos de bem-estar.